domingo, 21 de dezembro de 2008

E ainda vamos deixar o TGV avançar?...Porque gostam dos Portuguêses????

Classe média em Natal de sem-abrigo

Crise "convidou" mais pessoas para a habitual festa dos carenciados, ao crescer a "pobreza escondida"

00h30m

RICARDO PAZ BARROSO

Mais educados e exigentes. São os 'novos pobres', cuja penúria anda escondida. Já se fazem notar em festas natalícias, como a de ontem, em Lisboa, organizada pela Comunidade Vida e Paz.

"O termo sem-abrigo é um bocado forte para qualificar o público-alvo deste evento, o mais apropriado é falar de pessoas carenciadas, mesmo que alguns deles sejam de facto sem-abrigo", explicou ao JN Susana Agarez, 38 anos, publicitária. A 't-shirt' branca com a palavra "voluntariado" estampada fazia dela, ontem, uma das 1100 pessoas que ao longo de três dias ajudaram no "Natal dos Sem-Abrigo" da Comunidade Vida e Paz (CVP), que se realiza há 20 anos, e que termina hoje, na Cantina 1 da Cidade Universitária.

A distinção entre carenciado e sem-abrigo faz todo o sentido. Catarina Dias, 30 anos, bancária de profissão, voluntária encarregue há oito anos pela secção da roupa, confirmou "que se nota um grande acréscimo de pessoas de classe média-baixa em dificuldades". Descreve até o caso de um casal "que está desempregado e que veio aqui buscar roupas para oferecer às filhas pelo Natal".

As cerca de 3000 pessoas (entre elas mais de uma centena de crianças) previstas para os três dias usufruíram de uma refeição, de roupa, de chuveiro com água quente, uma prenda, algum convívio e até um corte de cabelo. Neste caso, todos pedem à "escovinha", o mais curto possível, "para que dure muito tempo", explica um dos voluntários.

Hoje, quando o dia acabar e por lá tiverem passado as cerca de mil pessoas esperadas, a contabilidade final do evento saldar-se-á em 4.500 refeições e 5000 lanches e ceias servidas, gastando-se meia tonelada de carne e outro tanto de bacalhau.

Segundo Catarina Dias, "as pessoas de classe média em situação aflita acabam por destinar todo o dinheiro para coisas básicas como a alimentação e despesas da casa, recorrendo depois a estes eventos para conseguir roupas". A voluntária, que chefia cerca de 50 elementos, conta ainda que este "é um tipo de pessoa mais educada , mas também mais exigente". "São mais selectivas, ligam a pormenores como manchas na roupa ou o estado de conservação, ao passo que o sem-abrigo apenas quer que a roupa lhe sirva e cumpra a função de o aquecer", diz.

A verdade é que o ambiente não era todo igual. Circulavam pessoas que sem dúvida não teriam qualquer tipo de abrigo, mas muitas mais pareciam até não precisar de qualquer apoio, embora lá levassem pela mão o saco com as roupas oferecidas. Todos recusaram prestar declarações.

Forte presença era a do voluntariado, em que até o director-geral da Nestlé, António Reffóios participou, na qualidade de apoiante da festa já que a empresa forneceu todas as bebidas quentes. "É melhor ter uma festa destas uma vez por ano, do que nada", concluiu Rosa Costa, 75 anos, enquanto aguardava que lhe servissem o jantar.

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